Audiência pública em Santa Cruz do Sul debate agrotóxicos na região

200 interessados de 25 municípios da região compareceram, na tarde chuvosa desta sexta-feira (24), no encontro realizado no anfiteatro do curso de Direito no campus da Unisc

      Audiência pública reuniu, na tarde chuvosa desta sexta-feira (24/8), em Santa Cruz do Sul, 200 interessados em debater os impactos do uso de agrotóxicos na saúde humana, meio ambiente e consumidor. O encontro foi realizado no anfiteatro do bloco 18 (curso de Direito) no campus da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). A promoção foi do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos (FGCIA), iniciativa do Ministério Público Federal (MPF/RS), do Ministério Público do Trabalho (MPT-RS) e do Ministério Público do Estado (MP/RS).

     Na abertura do evento, às 13h40min, o coordenador atual do FGCIA, procurador da República Rodrigo Valdez de Oliveira (lotado em Porto Alegre), relatou a origem e a atuação do Fórum, destacando que esta foi a nona audiência pública realizada no Estado. A primeira foi em 9 de abril de 2015, em Ijuí. As demais ocorreram em Pelotas (16/9/2015), Caxias do Sul (4/11/2015), Porto Alegre (8/6/2016), Encantado (21/9/2016), Osório (12/5/2017), Tupanciretã (25/8/2017) e Rio Grande (6/4/2018). "O objetivo primordial desta audiência pública foi o de ouvir a sociedade, a população, os trabalhadores e produtores rurais, a fim de conhecer a realidade e os problemas do uso de agrotóxicos na região", afirmou. Já o promotor da Defesa Comunitária em Santa Cruz do Sul, Érico Fernando Barin, ressaltou a importância da audiência para o fim de receber denúncias. O promotor de Justiça destacou, também, que as questões relacionadas à saúde das pessoas e ao meio ambiente não podem ser pensadas de forma abstrata.

     O coordenador da Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Codemat) do MPT-RS, procurador Rogério Uzun Fleischmann (Porto Alegre), salientou a importância de discussão do tema, especialmente no que respeita ao adoecimento dos trabalhadores, que ocorre sem a correspondente notificação pelas unidades de saúde ou pelo próprio trabalhador, sendo necessário superar a aceitação como natural dos efeitos do uso de agrotóxicos sobre a saúde de quem trabalha. Por sua vez, o vice-presidente regional Sul da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), Leonardo Melgarejo, lembrou que a sociedade precisa de informações para tomar decisões adequadas, em defesa da saúde e do ambiente. Salientou que o Fórum oferece alternativas neste sentido, criando espaço para denuncias e troca de informações relacionadas a um fato básico: o direito de vender ou usar agrotóxicos, exercido por alguns, está comprometendo o direito a vida saudável, da maioria. Está mais do que na hora da sociedade apoiar a agroecologia e se afastar dos riscos que os agrotóxicos representam.

Palestras e debates

     A primeira palestra esteve a cargo da professora Neice Müller Xavier Faria, médica e Doutora em Epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), intitulada "Os efeitos dos agrotóxicos sobre a saúde humana". A especialista afirmou que existe exposição intensa e crescente a vários produtos químicos, principalmente aos agricultores, mas que atinge toda a população. Tal fato gera riscos como intoxicação aguda e aumento da ocorrência de várias doenças, devido à exposição aos venenos, como problemas neurológicos, de saúde mental, asma, diabetes, danos genéticos e câncer. "É necessário que a população se organize, buscando novas maneiras de produzir alimentos e protegendo os trabalhadores que colocam alimento na nossa mesa", declarou..

Clique aqui para acessar em PDF aos slides apresentados por Neice.

     O pró-reitor de Extensão da Unisc, Angelo Hoff, fez a saudação institucional e ressaltou a "importância deste movimento do Fórum Gaúcho na perspectiva de debate acadêmico, que ajuda a jogar luzes nesta importante temática. Nesse sentido, colocamos a Universidade à disposição para colaborar neste complexo assunto de saúde pública".

     A segunda palestra foi dos engenheiros agrônomos Sighard Hermany e José Antônio Schmitz, também coordenador do curso de pós-graduação em agroecologia e produção orgânica da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), da Articulação em Agroecologia do Vale do Rio Pardo (AAVRP), sobre o tema "Rastros de Agroecologia no Vale do Rio Pardo". Relataram a experiência de ações em agroecologia na produção de alimentos como alternativa aos agrotóxicos. Apresentaram, também, o histórico do que já foi feito, desde a década de 80, e quais as ações que mais demarcaram a trajetória e a organização da AAVRP. Por fim, manifestaram preocupações com as ameaças de liberalização do uso de agrotóxicos.

Clique aqui para acessar em PDF aos slides apresentados pela AAVRP.

     A audiência pública seguiu com espaço para troca de informações, debates e encaminhamentos entre a população e os representantes de órgãos públicos, associações civis, estabelecimentos de saúde, conselhos, universidades e movimentos sociais organizados. Houve sete inscrições prévias, com cinco minutos para cada intervenção. Na hora, foi assegurada a palavra a 20 interessados presentes à audiência que se inscreveram no decorrer do evento, com três minutos por intervenção. O evento foi encerrado às 17h40min. A próxima audiência será em Passo Fundo, em novembro, em dia a ser agendado.

     Foram contemplados nos debates os municípios de Arroio do Tigre, Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul, Candelária, Cerro Branco, Encruzilhada do Sul, Gramado Xavier, Herveiras, Ibarama, Lagoa Bonita do Sul, Mato Leitão, Novo Cabrais, Pantano Grande, Paraíso do Sul, Passa Sete, Passo do Sobrado, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, Segredo, Sinimbu, Sobradinho, Vale do Sol, Vale Verde, Venâncio Aires e Vera Cruz.

     Formado por 67 instituições, o FGCIA é coordenado pelo procurador da República Rodrigo Valdez de Oliveira (MPF), tendo como adjuntos o procurador do MPT Noedi Rodrigues da Silva (Porto Alegre), o promotor de Justiça Daniel Martini (MP-RS) e o vice-presidente regional Sul da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), Leonardo Melgarejo. Entre o público presente, estavam a procuradora do MPT Thaís Fidelis Alves Bruch, os procuradores da República Carlos Augusto Toniolo Goebel e Marcelo Augusto Mezacasa (todos de Santa Cruz do Sul) e o coordenador do Projeto Rural do Ministério do Trabalho no RS (MT-RS), auditor-fiscal Guilherme Schuck Candemil (Porto Alegre).

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Fotos: Christian von Berg Franchi (MPF/RS)
Texto: Flávio Wornicov Portela (reg. prof. MT/RS 6132) enviado especial
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Tags: Agosto

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