Operação resgata trabalhador idoso escravizado em Quaraí

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Homem de 64 anos estava internado em hospital em razão das péssimas condições de trabalho e hospedagem

Trabalhador relatou que vivia em um galpão usado como depósito de materiais e até mesmo de agrotóxicos.
Trabalhador relatou que vivia em um galpão usado como depósito de materiais e até mesmo de agrotóxicos.

     Uma força-tarefa realizada pela Polícia Civil de Quaraí (coordenada pelo delegado Henrique Ferro), pela Superintendência Regional do Trabalho no Rio Grande do Sul e pelo Ministério Público do Trabalho resgatou, na tarde desta quarta-feira, um idoso mantido em condições de trabalho análogas à de escravo no município de Quaraí. Pelo MPT-RS, a operação foi acompanhada pelo procurador Hermano Martins Domingues, da PTM de Uruguaiana.

     De acordo com depoimentos colhidos pela polícia e pelo Ministério Público do Trabalho, o resgatado, um homem negro de 64 anos, vinha trabalhando há três anos e meio em uma granja em Quaraí. O próprio resgatado relatou que trabalhou todo esse tempo na propriedade sem receber salário. Ainda contou que era constantemente submetido a humilhações, era alvo de ofensas racistas e recebia alimentação insuficiente, chegando a recorrer a frutas colhidas no chão da fazenda para matar a fome. O proprietário da granja também teria, de acordo com o resgatado, retido os documentos pessoais do homem.

     O trabalhador alega que muitas vezes dormia ao relento – e que seu alojamento na granja era um galpão precário construído com tábuas e folhas de zinco e piso de terra batida. O espaço era mantido como depósito de materiais, de rações para animais e de venenos para a lavoura, além de ser constantemente infestado por ratos e pulgas. A força tarefa localizou o galpão em que teria ficado hospedado o resgatado e comprovou in loco as degradantes condições de hospedagem, inclusive a presença de galinhas e agrotóxicos no alojamento, o que é incompatível com a dignidade humana.

     O homem trabalhava na granja em diversas atividades, como ordenha de vacas, corte de lenha, trato de gado e manutenção de parreiras. Foi internado no início do mês de abril ao sofrer de fortes dores na coluna e outros problemas de saúde. Foi aí que se tornaram de conhecimento público as denúncias de sua condição, em razão do trabalho da psicóloga Alessandra Caroline Ortiz Zimmerman, que acompanhou o internado. A polícia civil de Quaraí ouviu o proprietário da granja, que confirmou apenas em parte as condições de hospedagem e trabalho.

PÓS-RESGATE

     Além da presença do procurador Hermano Martins Domingues e do delegado da Polícia Civil Henrique Ferro, participaram da ação os auditores-fiscais do trabalho Vitor Siqueira Ferreira e Jorge André Borges, da Gerência Regional do Trabalho de Uruguaiana. Na sequência do resgate, o idoso será encaminhado à assistência social do Município para que se providencie condições dignas de hospedagem após a alta hospitalar e receberá o seguro-desemprego em razão do ocorrido. Serão cobradas, ainda, as verbas rescisórias e indenizações para a vítima de trabalho escravo. O acusado, se condenado, poderá ser preso, além de ter que custear as multas e demais despesas do processo.

Texto: Carlos André Moreira (reg. prof. MT/RS 8553)
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Tags: Abril

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